Novas tecnologias e Estratégia Executiva

A transformação digital está formando uma economia digital, caracterizada por uma corrida pela tecnologia, não muito consciente, e por uma corrida pelo planeta, que encara a finitude de recursos com responsabilidade. Neste contexto, a mudança do modelo de produção passa pela integração do tecnológico com o sustentável, em que tecnologias exponenciais desenvolvem práticas ESG e vice-versa. Este caminho é capaz de criar mercados e receitas, garantindo a perenidade dos negócios. Para conduzir essa convergência, é necessário um líder integral e consciente, capaz de incorporar na estratégia executiva o equilíbrio entre o sucesso pessoal e organizacional com o bem-estar das pessoas e a sustentabilidade do planeta.

Crescimento exponencial na Economia Digital

A transformação digital se dá no contexto da consolidação de uma economia digital. Com o acelerado desenvolvimento tecnológico, inovações e disrupções mais frequentes quebraram a linearidade do desenvolvimento dos mercados. “Exponencial” é o conceito que melhor traduz o crescimento dos negócios nesta nova economia. É um tempo de rápidas mudanças em que dois movimentos marcantes atingem em cheio o universo empresarial: “a corrida pela tecnologia” e “a corrida pelo planeta”.

Corrida tecnológica

A corrida pela tecnologia se reflete na acirrada disputa pela próxima inovação e na preocupação em adotar o máximo de novas tecnologias, o mais rápido possível, em busca de vantagens competitivas. Startups, empresas Tech e ecossistemas de inovação se valorizaram muito neste circuito. A finalidade é antecipar o futuro, abreviando a curva de aprendizado. Torrar recursos (inclusive naturais) é “aceitável”, poupar e preservar não são exatamente as prioridades nesta competição.

Corrida sustentável

A corrida pelo planeta parte da conscientização sobre os limites do atual modelo produtivo. É cada vez mais sólida a compreensão de que o consumo desenfreado da natureza consome a própria humanidade, então é preciso mudar a forma de fazer negócios. A sustentabilidade é uma agenda conhecida, discutida e até bem recebida, mas os esforços para sua implementação ainda são tímidos diante da urgência por práticas sustentáveis. Muitas lideranças entendem que 2030 é uma D-line. Daí para a frente não será admissível produzir sem uma contribuição decisiva para a mitigação dos danos ambientais. Do contrário, iniciaremos uma contagem regressiva e incontornável para a exaustão, acentuando catástrofes climáticas, sociais e econômicas.

Não é um trade-off

As corridas tecnológica e sustentável são pautas presentes e em evidência na estratégia executiva. O que falta, talvez, é combinar as duas agendas. Tornar a corrida uma só, estabelecendo objetivos comuns para inovação e sustentabilidade, pode gerar resultados mais significativos, eliminando etapas intermediárias e saltando mais rapidamente para o próximo nível. Não é um trade-off, em que uma opção exclui a outra. É uma relação de mutualismo: tecnologias exponenciais e ESG, uma pauta em favor da outra.

Convergência, Inovabilidade e Propósito

Investir na conexão e reciprocidade entre as tecnologias exponenciais é o caminho para empresas alcançarem um futuro de abundância, em que as necessidades básicas de todos sejam atendidas e o bem-estar humano seja maximizado. Na economia digital, sustentabilidade ganhou um significado mais amplo. É uma questão de preservação, inovação tecnológica e progresso social.

Para colocar a convergência tecnológica e sustentável em prática, é necessário estar alinhado com um propósito que contemple consciência e responsabilidade. As Nações Unidas, ao estabelecerem os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criaram guias para um propósito empresarial universal. O documento contém a ideia da convergência, revelada na expectativa de que a combinação da robótica, inteligência artificial, nanotecnologia, biotecnologia e energias limpas tem o potencial de resolver os maiores desafios da humanidade.

Inovabilidade

O termo Inovabilidade tem sido usado por algumas organizações para expressar a convergência entre inovação e sustentabilidade. A tendência é que este conceito passe a ser um dos axiomas da estratégia empresarial. Mas, por que isto? Simples. Inovar com orientação sustentável não compromete o longo prazo e, no presente momento, agora mesmo, é um grande imã para investimentos, com o poder de atrair (e gerar) dinheiro novo. Um ciclo virtuoso, porque tudo culmina na perenidade.

A Inovabilidade é capacidade de impulsionar a sustentabilidade através da inovação, gerando diferenciação e abrindo novos mercados. Ou seja, neste paradigma em que as soluções precisam ser inovadoras, tecnológicas, economicamente viáveis e ecologicamente responsáveis, a aliança sustentável-inovador é uma forma de crescer, ser mais competitivo e criar receitas.

Propósito

Propósito é a “capacidade de unir as pessoas em torno de uma crença comum na identidade, no sentido e na missão da organização” (Deloitte, “State of Purpose”, 2022). Serve como um framework que mantém a coesão das ações na criação de valor de longo prazo, ajuda a atravessar turbulências no médio prazo e apruma expectativas internas e externas no curto prazo.

A definição indica a relevância do propósito empresarial em uma economia digital hegemônica. É tão valioso quanto a inovabilidade, porque é capaz de engajar stakeholders pela convergência, em especial consumidores e colaboradores.

A projeção que o propósito vem ganhando na estratégia executiva, no entanto, não se deve apenas às macrotendências que surgem com a transformação digital. Fatores como a crise climática e a substituição acelerada do trabalho humano pela automação afligem as pessoas, deixando-as inseguras sobre o futuro. Daí a necessidade de um alguém que aponte um norte. Como agentes do progresso, cabe às organizações oferecerem novos sentidos para o indivíduo que se percebe desorientado na sociedade.

A Liderança convergente e seu legado

Então, se é preciso conciliar a corrida tecnológica e sustentável para que a aceleração da transformação digital não consuma o homem e a natureza, e se para fazer isto é preciso que as organizações se orientem por fortes propósitos e consigam mobilizar stakeholders, a ponto de causar impactos significativos na sociedade e construir um futuro abundante na economia digital, o que está faltando?

Não é o quê, é quem. O líder. Executivos C-level, reuni-vos! A liderança da convergência da corrida da tecnologia com a corrida pelo planeta, e das novas tecnologias com os novos humanos, exige um líder integral e consciente, capaz de fazer a transição do “eu” para o “nós” e do “meu” para o “nosso”. Este líder deve:

  • Equilibrar o sucesso pessoal e organizacional com o bem-estar das pessoas e a sustentabilidade do planeta;
  • Enfrentar as tensões paradoxais entre o curto e o longo prazo, e entre a estabilidade e a mudança, usando da ambidestria para criar um ambiente em que a organização prospere;
  • Compreender dualidades, entender que existem “futuros” possíveis que são construídos no presente e saber pensar no longo prazo.

Sim, a geração de impacto demora e, portanto, a liderança convergente precisa esquecer a vaidade e não esperar reconhecimento pelo que construir. Mais importante é deixar um legado para o mindset coletivo, substituindo os valores egoístas por valores mais conscientes e sustentáveis.

Líderes que implementarem a inovabilidade podem estar a frente da revolução dos modelos de negócios. Aderir a esta mudança paradigmática preparará as empresas para os desafios do futuro digital.

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